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    “Artistas à Venda”, exposição realizada através do programa Pretexto no Memorial Attilio Fontana, se constitui de uma reflexão acerca do estatuto do artista. Ela é, antes de mais nada, uma plataforma de discussão das práticas contemporâneas e dos modos de atuação dos artistas no sistema da arte. A consciência crítica e o envolvimento dos artistas com as questões políticas, sociais e econômicas – no âmbito local e nacional - tende a despertar uma euforia, tanto da classe artística quanto do público, menos voltada para os ideais do individualismo e mais para a perpetuação de projetos coletivos para o futuro.

    A preocupação de que algo é ou deixa de ser “arte” é tomada pela noção de que o feito de ser “artista” nada tem a ver com a difusão da arte e sua inserção no sistema. Como insistir em uma obra que não cede às demandas do governo, das instituições ou mesmo do grande público? A postura dos artistas, historicamente, sempre foi contraditória. A insistência pela criação de uma obra particular perturba o núcleo das ideologias hegemônicas (das igrejas, do capitalismo, etc.), exatamente porque a compreensão e o modo como a arte se comporta no mundo é singular e, portanto, plural. Significa dizer que o artista não é aquele que unifica as vozes, mas aquele que tenta torná-las ainda mais dissonantes.

    Todos os artistas presentes nesta exposição produziram a partir de incômodos individuais e coletivos. Esse agir próprio - seja através da escrita, do vídeo, da pintura, da performance ou da instalação - é o motor desse conjunto de obras, um espectro de possibilidades de pensar as suas próprias condições de artistas atuantes em uma cidade do interior do Estado de Santa Catarina, desprovida de mercado de arte ou de instituições de grande porte. “Artistas à Venda” procura dar voz aos sujeitos para que eles possam pensar para agir e, não somente, agir para não pensar.

    “Artistas à venda” é, portanto, uma afirmação do avesso. Quando dizemos “estamos à venda”, questionamos o nosso próprio valor como trabalhadores da cultura e fazemos com que o olhar do outro para esta prática possa acontecer de forma mais íntima e propositiva. Trata-se de saber perceber e habitar o espaço de mediação em que se constroem as noções do “eu” e do “outro”. Ser artista, seja em uma grande metrópole ou em uma cidade no interior, é uma postura de insistência.

    Esta exposição, de caráter provocativo e lúdico, apresenta um conjunto de trabalhos inéditos, realizados por artistas de diversas formações e idades, mas que compartilham de uma vontade comum: injetar vida nas coisas.

     



    Kamilla Nunes é curadora independente. Graduou-se em Artes Plásticas pelo Centro de Artes da UDESC. É gestora da Rede Artéria [arteria.art.br]. Foi curadora do programa de exposições do Memorial Meyer Filho de 2007 a 2011. Entre suas últimas curadorias, encontra-se “ERRO EX POSTO”; “Sumidouro” [Laboratório Curatorial da SP-Arte]; a participação na equipe curatorial de Frestas Trienal de Artes e Bienal Internacional de Curitiba. É autora do livro “Espaços autônomos de arte contemporânea”, 2013.

     

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    Pensar em barreiras, demarcações, muros, limites e separações, tornou-se ultrapassado desde a queda do muro de Berlim. A cultura, quando pensada, estudada e vivida reflete nas diferentes maneiras de ser e estar no mundo. As comunidades passam por uma transformação desde o advento da internet, onde a globalização permite o “viver global”, o “estar em todos os lugares”, o “conhecer aquilo que antes era utópico”.

    O lugar onde nascemos e vivemos tem participação cada vez mais reduzida na construção do nosso ser, afinal, ora vivemos em comunidades locais, participando da preservação e dos rituais diários de concessões histórias criadas a partir da evolução das cidades, ora vivemos em comunidades virtuais que nos proporcionam um saber além do que se pode ver ou imaginar. A rede nos impede de ficarmos estáticos, alienados, estagnados em concepções retrógradas. Pelo menos é assim que deveria ser.

    Mas afinal, o que é cultura? O vocábulo cultura surgiu em 1871, derivado de kultur (cultivo, relacionado à terra, lugar, tradicional, essência espiritual de um povo) e civilization (civilização, modernidade, produção em massa e as cidades) (KUPER, 1999). Portanto, cultura é o que faz do ser humano um ser racional, comprometido e crítico.

    Ora, se a cultura transforma a racionalidade do ser, temos discernimento para avaliar os valores sociais e optar por quais nos identificamos, utilizando este argumento para expressar-se, conhecer-se e reconhecer-se como uma obra inacabada, passível de correções e questionamentos constantes, na busca pela construção incansável de um ser puramente humano e racionalizado. O processo de desconstrução do ser evidencia que a cultura, como conhecida, é instável. Ela muda, se adapta, se destrói e se reconstrói através de seus personagens. Ela pode ser entendida como uma colcha de retalhos, uma teia, uma rede de conexões, são dinâmicas e se reconfiguram.

    Se falarmos dos personagens que moldam a cultura, em contrapartida, a cultura também molda os seres que vivem em comunidades. Nas cidades – um lugar de encontro, de precipitação de culturas –  75% da população mundial vive políticas públicas estabelecidas por meio das necessidades urbanas. A maior parte desse percentual habita zonas periféricas, o que tem chamado a atenção de economistas que estimam, para os próximos 15 anos, uma superpopulação nas periferias (mais de 55% da população mundial). A cultura das cidades é pluricultural, ou seja, além de permitir o encontro entre as pessoas, permite a miscigenação da liberdade criativa.

    Neste mesmo pensamento de desenvolvimento social, surgem espaços na cidade que propiciem o desenvolvimento do capital cultural. São “escolas” que ensinam sobre a diversidade e não sobre as diferenças – comumente difundidas pela escola tradicional, como afirmam estudiosos – rotuladas pela qualidade e quantidade de conhecimento que trazem de suas casas, as heranças sociais. Estas diferenças são alimentadas, frequentemente, por preconceitos. O que devemos, impreterivelmente, eliminar de nosso pensamento tradicional, é a atitude etnocêntrica, que nada mais é do que a atitude de defender a sua própria cultura como única e exclusiva, sem entender a cultura do outro.

    Os locais de encontro para discussão social promovem o pensar além do que se sabe. É o caso dos museus que, segundo o Icom – International Council of Museums, define o espaço como uma entidade permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva, pesquisa, comunica e expõe, para fins de estudo, educação e lazer, evidências materiais de povos  e seu ambiente”. A concepção contemporânea idealiza o museu como um lugar de interação e de reação do público com o espaço. “São espaços de vivência”, como destaca Reis, 2007.

    Portanto, promover encontros com a comunidade pode trazer benefícios para a economia quando cursos, eventos, atividades, oficinas, espetáculos e outros fazeres artísticos são ofertados à comunidade muitas vezes sem custo econômico de apreciação. E é nesse sentido que o Memorial Attilio Fontana trabalha: com o desenvolvimento sociocultural das comunidades que, a partir da interação e apreciação, constituem o crescimento pessoal, a preservação histórica de uma região geográfica, a difusão da história de vida de um empreendedor e o fomento dos símbolos culturais produzidos pelos artistas que são, essencialmente, talentos desta terra. Não obstante, outras instituições e associações de igual importância trabalham com o mesmo viés para o desenvolvimento cultural de Concórdia e do estado de Santa Catarina.

    Hoje, com a inserção da instituição nas redes sociais e no ambiente virtual, possibilitamos o conhecimento além do que se conhece como presencial. Possibilitamos a vivência de um Memorial de forma globalizada e instantânea, de forma dinâmica e educativa, sem perder a essência e um dos ideais do Sr. Attilio Fontana: o desenvolvimento comunitário. O blog deste site estará aberto para que artistas, educadores, gestores e formadores de opinião discorram sobre assuntos que acharem pertinente compartilhar com a comunidade, provocando sempre, o pensamento de desenvolvimento do capital cultural.

      

    Artêmio Filho
    Gestor Cultural
    Memorial Attilio Fontana


     

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