O tempo é relativamente escasso. Desafiados somos a compreender e aproveitar, da melhor maneira possível, o tempo que passou, o tempo que é agora e o tempo que passará. Sobre o tempo que passou, somos marcados a ferro e brasa em nossos corpos, em cada pedaço de pele, que habitamos, registramos o tempo involuntariamente. Na cabeça, vemos o tempo com mais vivacidade na ausência de uma cor que já existiu e que deixou de ser, podendo ser retomada a qualquer momento: por vaidade: por vontade: por preenchimento de vida em cor. Quando passa, o tempo, a vida de cabelos brancos se mostra ainda viva.
Nessa poética, Glaucia Feraso encontra pontas duplas em fios de cabelo branco que retratam a convivência com o tempo. Em registros fotográficos, intervém com cor um preenchimento (não)sólido de histórias, de passado, de signos e seus significados, transpassando os paradigmas da estética corporal quando, por um fragmento branco, ora perceptível, ora discreto, ora abundante, ora natural, ora escasso, fica evidenciado na raiz de uma base pensante e extrema do corpo/matéria: a cabeça. E dentro desta matéria/cabeça, há nutrientes que adubam os fios entrelaçados de vida do ontem.
Glaucia exibe fragmentos de histórias selecionadas por detalhes que atraíram o seu olhar, sua mente e seu corpo, buscando um equilíbrio. São fragmentos que, embora desconectados pela vivência social, são agrupados em um nicho de vida com cabelos brancos.
E se pintássemos a palavra tempo pela cor da vida? Escolha a cor que deseja viver.
Artêmio Filho
Curador